Não é novidade vermos esquerdistas acusando a Revista Veja de servir aos interesses da elite branca burguesa opressora coxinha e capitalista. Também não é novidade vermos os mais conservadores ou direitistas (por mais que este termo ainda não tenha tanto apelo popular, ou por que não, comercial) acusando a revista Carta Capital de servir aos propósitos petralhas, bolivarianos e comunistas.
Na verdade, o que está errado é o ponto de vista. Já não podemos mais (feliz ou infelizmente) acreditar na imprensa como mera fonte de informação, imparcial, isenta e autônoma. Nem como o grande vilão manipulador das grandes massas, até porque, em plena cibercultura, o termo “cultura de massa” já se faz completamente demodê.
Em uma época onde todos geram conteúdo, a imprensa sofre com a queda nas vendas de tudo que é impresso, e as pessoas se informam em fontes cada vez mais diversificadas (e menos fidedignas). Por isso, a questão é mais simples e capitalista do que parece: Não se trata mais da imprensa informar, mas sim, da imprensa como negócio se reinventar e encontrar uma finalidade e um nicho de mercado em que possa atuar a salvo da revolução tecnológica e comunicacional que a nossa era vive, ou incluída nela.
O Facebook é o maior exemplo do que tratamos hoje quando falamos de notícias. Se de um lado temos um jornal como a Folha de S. Paulo saindo do facebook e as fakenews se proliferando, de outro lado vimos Mark Zuckerberg comercializando nossos dados livremente. Não se trata de notícia, direita ou esquerda. Se trata de nicho de mercado, e em ultima instância, business.
Dentro disso, tanto Veja quanto Carta Capital e tantos outros veículos não vendem mais informação e imparcialidade. Vendem pontos de vista, para um público específico. Os veículos não se destinam mais a informar, mas a alimentar seus respectivos públicos – de direita ou de esquerda – das informações que eles querem receber, pois mesmo a audiência – que a essa altura já são consumidores – não querem a informações novas. Querem alimentar seus pensamentos e fortalecer sua visão de mundo. Querem mais do mesmo.
Há algum tempo atrás, a atriz e apresentadora Monica Iozzi gerou polêmica ao dizer que não existe imparcialidade na imprensa. Ela estava certa. A única questão que ela não se atentou, é que se trata de uma questão de sobrevivência. Imparcialidade não é mais a premissa ou a intenção, e provavelmente é mais um termo que em breve sairá de moda como tantos outros.