Desde o início dessa década eu – e muita gente – começamos a ver o óbvio: As agências de publicidade vão morrer. Pra ser menos trágico e mais específico, o modelo de negócios no qual as agências tem se baseado durante décadas está com os seus dias contados.

Preso a antigas práticas que se perpetuaram, e paradigmas obsoletos que se consolidaram, vou elencar aqui os 05 principais motivos para justificar esse título:

 

1 – A tecnologia e a informação

A internet facilita a vida das agências, mas também pode dificultar. Tarefas que antes eram restritas a profissionais de marketing ou agências, estão mais simples e mais acessíveis com o surgimento de diversas ferramentas. Não bastasse isso, vivemos a era da democratização da informação. Guias, tutoriais, infográficos, webinars, e-books e ferramentas de e-learnig tornam a vida de qualquer usuário mais fácil, e tornam um leigo em expert em poucos passos.

 

2 – A evolução dos profissionais

A constante evolução do mercado tem caminhado em direção oposta a que as agências caminham. As profissões que se consolidaram como pilares da formação de uma agência e a separação de departamentos com a sua comunicação protocolada – como a relação quase ritualística entre atendimento e criação – tem dado espaço novas funções com profissionais cada vez mais polivalentes; O Atendimento tem se tornado um gestor. O mídia tem se tornado um planner. O Planner um criativo, e os criativos que pensarem mais na estética ou no design ao invés de ter o pensamento voltado para as vendas e para o business, vão ficar para trás.

 

3 – O mercado global

Se o mercado contratava uma agência pelos seus prêmios, pelo status, ou por confiar cegamente em um profissional que tinha uma criatividade acima da média, hoje a coisa mudou muito. As agências passaram de protagonistas a coadjuvantes. O papel que antes era exclusivo delas, agora é dividido com o cliente, pois a informação corre mais rápido. Os clientes agora são movidas pelo ROI, e se investem, querem saber exatamente quanto a agência vai trazer de retorno, o que nesta nova realidade, é uma pergunta que muitas agências ainda não sabem responder.

 

4 – O capital humano

Se desde a revolução industrial as cargas horárias têm crescido, e as gerações anteriores valorizavam cada vez mais o trabalho, as mudanças climáticas, a superpopulação das áreas urbanas, a redução da mobilidade urbana, a busca por mais qualidade de vida e o aumento das síndromes modernas, como estresse, depressão e burnout, juntamente com a saturação do mercado, tem feito com que o modelo de trabalho das agências – da carga horária excessiva por salários nem sempre suficientemente compensatórios – desvalorize a profissão e faça os profissionais repensarem seus futuros, buscando novas formas de trabalho ou até profissões alternativas.

 

5 – O modelo de negócios

Com profissionais ou prestadores de serviços multidisciplinares, muito do modelo de negócios das agências não faz mais sentido. Agenciamento de mídia com comissões abusivas em economias recessivas, cobrança de BVs em xeque por faltarem com a transparência ou com a ética, contratos engessados com fee mensal obscuro numa era da customização por completo, e a precificação de serviços que não tem a percepção do seu valor justificada para os clientes, fazem com que todo o modelo de negócios das agências tradicionais tenha que ser revisto, deixando de ter no agenciamento seu principal produto. Mais que isso, deve vender ideias, soluções e resultados.

 

Não acredito que as agências de publicidade vão morrer efetivamente. A crise real é com o modelo de negócios. E se há uma economia global em crise, buscando por novos caminhos, novas ideias e novas soluções, há oportunidade para que as agências se reinventem junto com este novo mercado, e sirvam até de escape desta crise para alguns clientes.

Já as agências que estão presas as velhas práticas, métodos e paradigmas… que descansem em paz!